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MEU CALVÁRIO

  • Foto do escritor: Denise Polonio
    Denise Polonio
  • 7 de abr. de 2015
  • 3 min de leitura

Sexta-Feira Santa, fiquei na cidade. A planilha de treinos indicava dia off já que o seguinte, Sábado de Aleluia, estava reservado para minha Via Crúcis de 28 árduos e controvertidos kms. Foi então que neste dia, o qual seria meu jejum, acabo adaptando o cardápio e saio cedo para um treino de bicicleta rumo a Ciclovia da Marginal Pinheiros, esta alternativa que apesar de um pouco tímida, revela através de seu tapete vermelho, a ambição de roubar a cena da cidade se oferecendo como opção de deslocamento diário, lazer e prática de ciclismo.

De um lado o Rio Pinheiros, do outro um trecho de linha daCompanhia Paulista de Trens Metropolitanos e lá vou eu pedalando nesta artéria que apesar de jovem, já sofre com tantas intervenções de habilidades pouco cirúrgicas, ostentando cicatrizes precoces e nem um pouco sutis. Enfrentar o cheiro do rio, ou deste vergonhoso esgoto a céu aberto, foi realmente um exercício de sublimação o qual me proporcionou em certos momentos a sensação de descida aos infernos para seguir em busca do momento em que poderia alcançar a ressurreição numa cidade se não com novos horizontes, ao menos mais puros. Como ventava muito tive que concentrar mais força nas pernas do que planejava e, para que este não comprometesse os 28 km de corrida previstos para o dia seguinte, resolvi maneirar e o encerrei na marca de 27km de pedal.

Deixei tudo preparado para no dia seguinte o corpo acordar mas permitir aos neurônios acostumarem-se aos poucos com a idéia de sair da cama às 5:20 da madrugada de um sábado santo, rumo ao Calvário. Separei os suplementos indicados pela nutricionista, a vaselina para passar nas áreas do corpo submetidas ao maior atrito, a meia de compressão, o top, o short, a camiseta, o tênis preferido para longões, a pochete, enfim todos os itens que compõem a farda dos corredores e corredoras de rua. Embora com 55% de bateria, coloco o Garmin para carregar a fim de garantir ao menos para este, carga suficiente até o final de mais este longo treino.

Novamente chego na USP cedo e ainda mais vazia do que o normal para o horário, por tratar-se de um final de semana prolongado. Aguardo minha parceira para o treino dentro do carro e eis que sou pega de surpresa por um inoportuno alarme biológico. Lembro-me de um professor de biologia explicar que este tipo de alarme toca duas vezes sendo o terceiro não mais um aviso mas sim uma determinação irrefutável de nosso sistema digestivo. Prontamente resolvo atender ao primeiro alarme e parto em direção a algum edificio do campus que pudesse me acolher nesta demanda física inevitável, indesejável e não menos constrangedora. Posso dizer que este foi o primeiro trecho de minha Via Crúcis percorrida com um certo sacrificio e muita superação. Livre desta imposição do corpo e já em companhia da minha amiga e parceira Amanda, seguimos para a segunda volta quando percebo que esquecera de soltar o cronômetro em algum momento, o que subtraiu preciosos 1000m do percurso percorrido. A altura do km 24 recebo outro alarme, desta vez do Garmin que acusava uma surpreendente carga baixa de bateria o que acabou testando minha concentração e capacidade de conter o mau humor diante de um cansaço físico e mental acima do esperado. Finalmente termino o treino junto com o último suspiro do relógio que não recarregou porque descubro que o encaixara mal no dispositivo de carga na noite anterior.

Já em casa e semi-recuperada das provações a que fui submetida neste treino um tanto quanto litúrgico, noto a ausência de uma unha do pé direito que presumo, se oferecera em sacrifício como parte de um ritual inconsciente em busca do Aleluia.

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