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30km SOB O CÉU QUE NOS PROTEGE*

  • Foto do escritor: Denise Polonio
    Denise Polonio
  • 9 de mai. de 2015
  • 3 min de leitura

Mais um feriado prolongado no final de semana e fico pensando como conciliar a viagem para Florianópolis com o treino de 30km a percorrer no sábado. A princípio achei que seria muito bom correr em um cenário diferente da minha rotina de treinos, variando não só a paisagem como também o clima, o tipo de solo, o vento, a umidade do ar, num percurso que eu teria de traçar mais ou menos às escuras, porque apesar de conhecer a ilha, eu nunca tinha corrido lá até então. Confesso que me animei bastante com a idéia mas por mais sedutora que esta possiblidade parecesse, algumas questões de ordem prática fizeram com que eu optasse por antecipar este treino do sábado para quinta-feira à tarde, ou seja, véspera do feriado e do dia em que viajei. Na verdade, esta decisão foi muito controvertida pois até o momento em que saí de casa para fazer o treino às 15:00 desta quinta-feira, ainda não tinha me decidido ao certo quanto iria correr, nem se seria na academia ou no Parque Villalobos, onde costumo treinar nos dias de semana.

Entrei no carro e fui parar no parque como se um ente superior o tivesse dirigido até lá.

Comecei o treino às 15:30 mas até esse momento não tinha certeza da distância que iria percorrer.

Uma chuva rápida na hora do almoço fez com que a temperatura caísse, tingindo de cinza essa tarde tipicamente paulistana trazendo também um vento gelado e penetrante que me acompanhou por todo percurso, se pronunciando ainda mais no trecho em que a pista que circunda o parque é paralela à marginal pinheiros, ou seja ao lado do rio.

Me deparei com alguns poucos corredores e raros ciclistas, além dos estudantes habituais que vão ao parque para passar o tempo em partidas de futebol que jogam nas quadras de basquete. Completo as duas primeiras voltas ainda tentando me acostumar com o vento e com a idéia de correr 30km. Faço as contas. A volta completa tem 3,200Km e sendo assim faltariam mais 7 voltas e meia para totalizar a distância. Segui correndo e o tempo também. Corrí contra o vento propositalmente pois soube que o local da maratona que farei, na cidade de Tromso- Noruega, costuma ventar bastante além das baixas temperaturas e achei então que seria uma boa idéia simular uma situação semelhante a que irei enfrentar.

Sem a presença dos treinadores e das regalias com as quais contamos nos horários habituais, tive que me virar sozinha com a hidratação, bebendo água nos bebedouros espalhados pelo parque e somente no final fui tomar o isotônico que me aguardava dentro no carro. Surpreendentemente o entardecer foi inquietante e peculiar. Sem que eu me desse conta, o sol resurgiu no horizonte por entre nuvens carregadas e ao se por, uma parte do céu se cobriu de um tom azul-violeta que não me lembro de ter visto antes. Fiquei tão surpresa quanto deslumbrada diante deste repertório tão diverso que a natureza tem a nos oferecer ainda que seja numa cidade como esta, de habitantes tão ingratos quanto desatentos. A claridade durou muito pouco depois disso e logo os postes de iluminação começaram a acender. Minha vista, que já não é mais a mesma há algum tempo, voltou a me trair de modo que não conseguia enxergar os números que marcavam a distância no relógio e a partir daí passei a contar com o auxilio dos seguranças do parque para quem perguntei em paradas rápidas, qual número ostentava o visor no campo correspondente a distância. E foi um casal que surgiu logo após uma curva que me brindou com a esperada notícia de que o fim estava muito próximo fazendo com que eu fechasse os olhos e enxergasse um pórtico imaginário de chegada.

Ao final de 2:59':46", deixo o parque já de noite, com mais um treino cumprido que encurtou minha distância para a Noruega.

SOBRE O TÍTULO DESTE POST:

The Sheltering Sky (O céu que nos protege ou Um Chá no Deserto)

Mais uma vez cito um filme dirigido por Bernardo Bertolucci, de 1990. Baseado na obra do escritor norte americano Paul Bowles, este filme é tão intrigante quanto o ator John Malkovitch, um dos protagonistas, que faz par com a atriz Debra Winger. Com trilha sonora de Ryuichi Sakamoto o filme narra a história de um casal de New York em crise que viaja em companhia de um amigo para a África onde rapidamente se instaura um perturbador processo de transformação em suas vidas.

Sabemos que Bernardo Bertolucci é um crítico feroz da sociedade burguesa e das relações marcadas pelo conformismo. Quem assistiu O Último Tango em Paris sabe o que estou dizendo. Mas neste filme é onde ele faz uma das maiores críticas à sociedade burguesa e ao ideal de progresso. Assistam, os travelings são magnificos e a interpretação dos atores é de extrema elegância e profundidade.

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