O longo caminho da volta
- Denise Polonio

- 23 de out. de 2015
- 2 min de leitura

Estou tentando mas não está fácil voltar à rotina dos treinos. Embora não tenha parado completamente desde que minha coluna se revelou fora do prumo, treinar na esteira me parece um exercício cuja maior eficiência é testar a paciência e a capacidade de sublimação. Percorrer kilometros sem sair do lugar é a negação das leis fundamentais da física. Desculpem-me por voltar ao tema mas estes axiomas me causam inquietação e acabam provocando movimento em minha mente muito mais do que em meu próprio corpo. De alguma forma também, acredito que todo corredor lide com tais premissas ainda que de modo insconsciente. Ou seja, estamos sempre atentos ao tempo que levamos para percorrer determinada distância, nos esforçamos em treinos que prometem aumentar a aceleração, lutamos com a nossa massa fazendo de tudo para que ela diminua a fim de favorecer o movimento, enfim, lidamos com variáveis diversas que relativizam os resultados das experiências às quais voluntariamente nos submetemos.
No último sábado retornei à USP e os primeiros 20 ou 30 minutos do percurso de 14km percorridos em 1h24m45s, foram vencidos passo à passo como se estivesse reprogramando minhas funções motoras a fim de adaptá-las novamente ao estado de movimento. No final das contas, o pace médio de 6:03 me pareceu razoável para este treino já que há quase 2 meses não corria na rua além do clima primaveril que tem feito nesta cidade não estar nem um pouco amigável.
Terça-feira, chego no final da tarde para 10 tiros de 500m no Parque Villa Lobos. O sol ainda forte e alto às 17:00 devido ao controverso horário de verão, mantinha o asfalto e o vento quentes fazendo com que ao final deste treino, a quantidade de água que eliminei através da transpiração, se reciclada, poderia muito bem contribuir para a subida dos níveis das represas da cidade. Sem querer submeti minha vontade de voltar à corrida a um teste de fogo, literalmente, eu diria. Não foi uma grande performance, ao contrário, mas fui até o final e antes que este acabasse comigo.
Com o sol quase oculto no horizonte, dirijo de volta para casa sentindo nas pernas o peso da consciência. Sigo autômata pelas ruas da cidade encapsulada em meu carro até chegar ao meu destino como se tivesse sido teletransportada e, embora meu corpo tenha se deslocado, foi minha mente que voou para longe deste. Em movimento percebo que não o meu corpo mas sim a minha mente é capaz de alcançar distâncias instransponíveis e inconcebíveis para qualquer um que se desloque utilizando-se apenas de suas pernas. Chego a pensar que talvez a fixação dos seres humanos por velocidade e movimento seria como se quiséssemos alcançar com nossos corpos o lugar para onde fogem as nossas mentes numa busca incessante por lugares imaginários e experiências inéditas. Não sei exatamente se o que me move na corrida é a busca por um objetivo específico, conforme escrevi em outros posts, mas de uma coisa eu tenho certeza, ao chegar, seguirei buscando até onde meu corpo permitir e minha mente alcançar.




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